segunda-feira, 23 de junho de 2008

Poema de Maria Fortuna e relembranças sobre leitura



Sobre um poema e leituras

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Recebo o card-poema de Mariinha, que estará com as demais enfocadas neste blog, no livro-álbum POIETISAS.

Chargista ,poetisa e escritora, dedica-se à literatura infantil.Seu livro mais conhecido, já em segunda edição, é "O Anjinho que Queria Ser gente".O mais recente, "O Pardalzinho Desconfiado".
Ambos editados pela editora MAZZA,de Belo Horizonte .Falo a respeito em meu blog Filhotes de Borboletas.Escrevi um prefácio pequeno e leve para o seguinte, chamado "A Sementinha Que Não Queria Nascer", a pedido da autora.

No poema de Mariinha (card acima, nõ conheço o crédito de quem criou), ela atona a crinça que existe dentro dos adultos.Dormita, brinca, crê e cria, mas muitos jamais a reencontram, doutrinados pelo status quo!

Em outubro, os adultos deveriam lembrar-se de dar livros junto aos demais presentes, na semana da criança.Sempre fiz isso com meus filhos e sobrinhos, filhos de amigos.E eu própria, desenvolvi o gosto pela leitura desde muito cedo:mamãe alfabetizou-me quando eu tinha três, meu tio Rubens Pessoa levou-me "gibis " para ler no navio que nos trouxe , do Nordeste para o Rio de Janeiro, de onde fomos para juiz de Fora e amineirei-me.Até hoje, vejo sua imagem de adolescente, chegando de bicicleta e alcançando o navio no porto.Meu pai era "moderno" e não se incomodava , conforme o pai de minhas amigas faziam,que eu lesse quase tudo :de bulas a quadrinhos (toda semana, dava-me o valor dos "Pato Donald", e eu corria atrás de seu Bruno, um italiano que vendia revistas e jornais de porta em porta-e sua banca de revistas posteriormente no bairro Mariano Procópio, em Juiz de Fora, ainda existe, gerenciada pela filha,Gilda,que foi minha aluna quando eu lecionava na terceira série do grupo Antonio Carlos),tímida demais para chamar o jornaleiro. Sempre que alguém o chamava, eu tentava alcançá-lo.
Papai presenteou-me toda a vida, com muitos livros.Aos doze,recebi dele trinta volumes encadernados , de Machado de Assis, depois todos os romances de Alencar.Aos dezesseis, ganhei uma caixa onde se acomodava a "História das Grandes Óperas".E comprou-me também uma coleção de grandes romances brasileiros.Tenho todos até hoje.
Meu avô , o jornalista parabaino Luiz Máximo também fascinou-me com sua enciclopédia de mitologia grega, cheia de incestos e nus (eu lia à luz de lanterna,escondida, debaixo da colcha da cama, em pouso Alegre, onde vovó e ele tinham uma chácara), e lia-me poemas ,fazendo críticas e declamando .Os exemplares de poesia,deixou um dia de presente, após uma visita longa, quando chegara com vários volumes.Noutro dia contei a um poeta gaúcho que li poesia gauchesca, em impressos que ele recebia do Sul brasileiro , onde li, pela primeira vez, a palavra "china, a palavra "poncho", bem pequenina.
Tio Jandy Solimões de Araújo ,com a esposa italiana Mariantonia Lomonte de araújo, levava-me nas férias .Possuíam muitos livros, devidamente trancados em estantes envidraçadas,e aguçando minha curiosidade, quando ele pegava um Jorge Amado, mostrava algo a ela e riam, mas sabendo de meu amor pela leitura e pela poesia ,compravam-me livros apropriados à minha faixa etária.Lembro-me de "A Cabana do Pai Tomás".Eu declamava nas escolas de Alfenas onde residiam e quase qual um pagamento, Cidina, sua mana, e tia mari, pasaram-me seus belíssimos livros "As mais Belas Histórias", livros gigantes, de capa dura e super bem ilustrados, o que deve ter-me incentivado ao desenho e à ilustração.
Nos colégios de freiras-o Santa Catarina,o "Santos Anjos,ambos , por exemplo, em Juiz de Fora, tinham um espaço letivo chamado "Biblioteca".Os livros vinham quais acepipes em grandes bandejas de madeira.Eu lia depressa e entrei no mundo dos cavaleiros, damas e fadas,devorando vários em uma aula(na verdade, apenas escolhíamos e líamos qualquer coisa, as profesoras não comentavam nada-apenas exigiam silêncio).
Quando já era mocinha, a mesma coisa ocorria no Colégio Coração de Jesus, em Itajubá,sul de Minas, onde eu era normalista e lembro-me que li um impressionante "Casamentos na Tormenta Vermelha", onde mulheres davam à luz em camas já sujas de sangue das outras partutrientes.Li e me lembro bem do Floradas na Serra, de Lígia Fagundes Telles (sobre os tratamentos à tuberculoses, em torno da qual, gravitavam personagens e protagonista)... O Quinze, de Raquel de Queiroz, que depois reli várias vezes, pois tendo raízes nordestinas, impressionava-me o drama da seca, dos retirantes... os Irmãos Karamazov,Crime e Castigo... Dostoiwezki, Tolsto..."O Pequeno Grande Milagre", sobre a vida de pessoas com o Mal de Hansen, que tinham de tomar doses de um óleo "terrível", na busca da cura.
Quando ,professorinha recém -formada,recebi o primeiro lugar de crônica, com "Operária", recebi o troféu Dormevilly Nóbrega e um pacote de livros- o que muito me alegrou.O concurso, criado por José Carlos de Lery Guimarães, em seu progarama de rádio Contraponto, foi sério e até hoje, comovo-me quando vejo o troféu.Eles pensavam-me um senhor e, todos dias , chamava-me ao microfone:"Senhor Clevane, apareça", etc,etc, porque os demais colocados já haviam se apresentado e minha timidez fazia-me adiar a apresentação.

Há uns anos, um paciente deu-me, de natal, uma caixa decorada com toda a obra de Cecília Meirelles, que eu já possuía em brochura.Fui reler tudo.E ao chegar, com Ricardo Evangelista e Sueli Silva, ao Instituto de Cultura Brasil-Uruguai (ICUBUY), em Montevidéu, a doce senhora Professora Deolinda Lahm, colocou-nos em uma sala onde Cecília Meirelles nos olhava verdemente com seu olhar de água, numa de suas mais conhecidas fotos, da parede uruguai/brasileira.

Ah, conheço quem não gosta de ler, sim - e até escrevi o conto"A Moça que Não Lia", presente em meu livro "Mulheres de Sal, Água e Afins"(Editora Urbana,RJRJ)Libergráfica,BHMG), mas sempre fico perplexa.Parece-me tão impossível quanto fazer afundar uma folha seca ou boiar uma pedra ...

As crianças e adolescentes,precisam de leitura.Nós, adultos , também.

Um comentário:

MJFortuna disse...

Um dos traços característicos da Clevane Pessoa, é a forma com que valoriza o trabalho das pessoas. Ela garimpa o que temos de melhor e lança para que os outros tomem conhecimento. Reconhece, promove, divulga
Adoro ser amiga de uma pessoa tão talentosa e especial.

Um grande abraço
Maria J Fortuna