quinta-feira, 7 de agosto de 2008
PÓS CHUVARADA
Reflexões após a Chuvarada (I)
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Depois de 104 dias sem chover
(a precisão da contagem vem-nos da TV),
em Belo Horizonte, despenca uma cortina
de muitas camadas de água.
A umidade relativa do ar, andava baixíssima,
agora os pulmões dos vivos e as plantas agradecem.
Mas a chuva é intensa, contínua, as enxurradas
balançam meu espírito inquieto:
quantos terão seus abrigos (des)manchados?
Quantos serão arsastados, à (in)acreditável
força das águas?
Os bens de consumo, as propriedade materiais,
perdidas, provocam gritos e ais,
mas há o pior:
os que sofrem registros de perda afetiva,
e as mortes dos corpo que não resistem,
fazem esquecer da "Vida Eterna".
Todos somos egoístas quando partem os que amamos,
mesmo que tentemos , cheios de defesas,
justificar os porquês.
Estou ao abrigo, e solidária,mentalizo
para esses des/conhecidos da mesma espécie:
humanos e todas as espécies
, que perdem tijolos e panos,
eletrodomésticos ,celulares e computadores.
Lembro que quase não existem mais cartas de amor,
substituídas por e-mails deletáveis,
quando não mais perdurar o interesse amoroso.
Mas quantos não perdem velhos e queridos álbuns antigos,
fotografias de batizado, casamento, viagens, formaturas?
No outro dia, desafiante, o novo dia explode em luz
e esta invade os espaços ,clareia
e mostra as calçadas limpas, os jardins verdíssimos,
ao som dos pássaros e das pessoas.
A beleza sempre vence as mazelas,
coloco um CD e a voz de Chico Buarque
preenche esta manhã em festa.
Agradeço a umidade relativa do ar,
em nível muito mais alto.
Embrulho para presente um pouco de luz solar
e mando aos amigos que estão em Moscou.
Ensaio passos de dança, cantarolo,
parceira improvável do compositor.
E vou deitar-me na rede do terraço,
cãozinho no braço,
com a preguiça boa dos Poetas,
que no ócio produtivo
fazem chover versos...
A chuva é espantosa e milagrosa,
"apesar dos pesares":
é preciso lutar para sempre
ceder à sua beleza in/esperada...
Belo Horizonte,
06/08/2008
(*) verso de Odylo Costa,filho.Estava no Maranhão, em 1972, quando houve uma enchente.Então entendi o soneto do Poeta, ao vivo:"Tudo cede à força das águas"(...)
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